segunda-feira, 19 de abril de 2010

O que Literatura Jesuítica?

Algumas pessoas misturam um pouco a literatura de informação e a literatura jesuítica. Vejamos esse texto que resume os dois conceitos:

"O primeiro século de colonização do Brasil foi marcado pela tentativa européia de descrição e dominação do Novo Mundo. A nova terra, cheia de animais e plantas exóticos, e seus estranhos habitantes, de costumes inusitados e por vezes assustadores, geraram uma literatura composta basicamente por cartas, relatos de viagem e tratados descritivos. Essa literatura, denominada Informativa, procurava contar todas as novidades àqueles europeus que não se atreviam a fazer uma viagem tão atribulada. Além disso, temos a obra dos padres jesuítas que vieram ao Brasil para catequizar os nativos. Eles criaram uma literatura de caráter didático, por meio da qual procuravam levar, e muitas vezes forçar, o índio a adotar a fé cristã. Nessa literatura jesuítica, o mais destacado, tanto como missionário quanto nas escritas, foi o padre José de Anchieta, que deixou inúmeros poemas e peças doutrinárias de valor literário."

Além disso, vale lembrar outros pontos fundamentais

a) Os jesuítas instalados no Brasil eram agentes da Contra-Reforma. Por isso, a atividade principal dos padres era o trabalho de catequese.

b) Num trecho da Carta de Caminha, o autor solicita ao rei que envie gente para a terra recém-descoberta: “Não deixe logo de vir clérigo para os batizar...”

c) Os jesuítas contribuíram para a destribalização dos indígenas, tentando incutir-lhes uma educação européia.

d) Pondo em primeiro plano a intenção pedagógica e moralizante, os textos que produziram têm caráter mais didático que artístico.

e) Nesta linha didática, está o Pe. Manuel da Nóbrega, com o seu Dialogo sobre a Conversão dos Gentios.

f) Em todo o século XVI, só uma figura transpôs a linha do meramente informativo e didático para incluir-se no plano artístico-literário: padre José de Anchieta.


Massaud Moisés nos diz:
"Grande número de jesuítas que deixaram notadamente em cartas, o registro das suas observações acerca da realidade sócio-geográfica do Brasil e de suas peregrinações missionárias: Antônio Blásques, Leonardo do Vale, João de Aspilcueta Navarro, Leonardo Nunes, Luís da Grã, Francisco Pires, Manuel da Nóbrega, José de Anchieta, Fernão Cardim e outros. Os três últimos, porque os principais, merecem análise detida." (pág. 34 e 35)
Como Cardim já foi discutido aqui, vamos falar um pouco de Nóbrega e Anchieta.

Padre Manuel da Nóbrega

"Sua obra de destaque Diálogo sobre a conversão do Gentio cuja redação se deu em 1558, e talvez, melhor em 1557, encerra especial interesse: a par de informações, oferece-nos uma ideia do pensamento do autor e, mesmo, da Companhia de Jesus no Brasil, visto ter sido ele seu primeiro Superior e Provincial. Mais liberto das obrigações de noticiar e de solicitar a ajuda reinol para as tarefas ecumênicas entre nós, o jesuíta põe-se a fazer doutrina em torno dum problema pragmático de suma relevância para o destino da Ordem e, por tabela, da Nação que desponta: a educação do gentio segundo os princípios cristãos, o que significa considerá-lo humano e igual ao branco (...). O Diálogo mostra evidentes intuitos literários, a partir da utilização do diálogo como recurso expositivo (“Diálogo” é um gênero literário em que o autor simula uma palestra ou debate entre personagens reais ou fictícios para comprovação de algo.) (...) O estilo e o conteúdo das falas mostram coerência, cada personagem articula sempre os pensamentos numa dicção apropriada. Nesta obra, apesar das ressalvas que se lhe possam apontar e as limitações de que padece, constitui o primeiro documento literário em prosa escrito no Brasil e com os olhos voltados para a sua específica realidade social."

Faça o download desta obra na página DOWNLOADS


Padre José de Anchieta

Para os índios, foi médico, sacerdote e educador: cuidava do corpo, da alma e da mente. Na catequese, usava o teatro e a poesia, tornando a aprendizagem um processo prazeroso. Ensinou latim aos índios, aprendeu tupi-guarani com eles. A sua obra, diversificada quanto aos géneros, linguagem e estilo, tem quase sempre uma função pragmática, com objectivos teológicos e moralizadores definidos e destinatários precisos. É na poesia, teatro, sermões e cartas que se encontram os melhores momentos da sua obra. "Mais do que qualquer outro jesuíta do tempo e dos séculos XVII e XVIII, foi senhor de autêntica vocação literária. Além disso, a sua atividade intelectual, embora mesclada à catequese e ao ensino religioso, ostenta o mérito de ser pioneira no alvorecer do Brasil - Colônia. Suas obras poéticas, teatrais e em prosa, denotam sempre talento estético cujo despertar a tarefa missionária não abafou, antes, permitiu e estimulou. (...). Se a oratória e os escritos historiográficos não subiram tão alto, ao menos sobressaem como as primeiras manifestações do gênero, além de serem documentos imprescindíveis ao historiador da cultura brasileira no século XVI. Anchieta é a primeira voz de nossa literatura a exprimir o diálogo entre a cultura mediterrânea e a ecologia tropical, numa bipolaridade que acabou sendo a marca do que somos como povo e civilização.

REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

MOISES, Massaud de. História da Literatura Brasileira: das origens ao romantismo, vol. I São Paulo: Cultrix, 2001.

http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Padre+Jos%E9+de+Anchieta

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u421.jhtm

http://www.klicknet.com.br/2006/materia/21/display/0,5912,POR-21-100-892-,00.html

http://www.colegioweb.com.br/literatura/a-literatura-jesuitica

Um comentário:

  1. na verdade gostaria de saber do trabalho de literatura brasileira, nelsson falou que iria estar no blog.onde estar?

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