quarta-feira, 21 de abril de 2010

Comparações

Muitas pessoas sentem uma dificuldade em comparar os autores estudados. Mas observemos que não se trata de comparar milimetricamente o que cada um diz com o que o outro fala. Basta termos uma compreensão geral do modo como cada um descreve (define) o Brasil colônia. Ou seja, o post anterior a esse (Lembrete importante) ajudará muito neste ponto.
Abaixo, irei apontar alguns trechos interessantes nas obras em questão, grifando as palavras-chave de cada trecho. Vejamos:

Em História da província de Santa Cruz, Pero de Magalhães Gândavo nos fala o seguinte sobre o gentio :

"São desagradecidos em grã maneira, e mui desumanos e cruéis, inclinados a pelejar e vingativos por extremo. Vivem todos mui descansados sem terem outros pensamentos, senão de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam muito. (...) São mui desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvesse razão de homens." (pág. 122)

Alfredo Bosi em História Concisa da Literatura Brasileira nos diz o seguinte sobre essa visão de Gândavo: "Sua atitude em face do índio prende-se aos comuns padrões culturais de português e católico-medieval; e vai da observação curiosa ao juízo moral negativo, como se vê neste comentário sério e jocoso sobre a língua tupi:

"Esta é mui branda, e a qualquer nação fácil de tomar. Alguns vocábulos há nelas de que não usam senão as fêmeas, e outros que não servem senão para os machos: carece de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente sem terem além disto conta, nem peso, nem medido." (pág. 122)

A obra de Gândado é de fundamental importância para o estudo da história do Brasil. Essa obra foi o primeiro livro dedicado inteiramente a descrição da "nova terra", com grande valor para estudar sobre o início de nossa história. Mas vale salientar que esta obra possui muitas pretensões políticas e muitos julgamentos que nos impede de conhecer-mos mais sobre os gentios.

Vejamos trechos do livro de Fernão Cardim, Tratados da terra e gente do Brasil, que se contrapõe com os de Gândavo:

"Todos andam nus assim homens como mulheres, e não têm gênero nenhum de vestido e por nenhum caso verecundant, antes parece que estão no estado de innocencia nesta parte, pela grande honestidade e modestia que entre si guardão." (pág. 89)

"Em toda esta provincia ha muitas e varias nações de differentes línguas, porém uma é a principal que comprehende alguma dez nações de Indios (...) porém são todos estes de uma só lingua ainda que em algumas palavras descrepão e esta é a que entedem os Portuguezes; é fácil, e elegante, e suave, e copiosa, a dificuldade della está em ter muitas composições." (pág 101)

Massaud Moisés em A literatura Brasileira através dos textos nos diz o seguinte sobre Cardim:
"Espírito aberto, jovial, sensível às coisas novas que ia observando, descontraído e desarmado em face do espetáculo inédito que lhe ofertava um povo inculto numa terra virgem (...). Lendo-o , tem-se a impressão de estar recebendo as primeiras sensações desencadeadas pela terra nova numa psicologia ainda plástica e imune a maiores preconceitos." (pág. 54)

Em Hans Staden, no livro A verdadeira história dos selvagens, nus e ferozes devoradores de homens temos o seguinte:

"Eles não têm nenhum direito estabelecido e também nenhum governo próprio. Cada cabana possui um chefe que é, por assim dizer, um rei. Todos os chefes são da mesma linhagem, tendo poderes iguais de mando e de governo - independente de como se queira chamá-los. Quando um deles mata o outro, com um golpe ou uma flechada, os parentes do morto tomam providências para vingá-lo. Mas isso acontece raramente. (pág. 146)

"Trata-se de um povo em que homens e mulheres são tão belos, no corpo e aparência , como aqui em nossa tera; só que eles estão bronzeados pelo sol, visto andarem todos nus - tanto os jovens quanto os velhos - , sem nunca cobrirem as partes vergonhosas." (pág. 141)

"O que vale como uma honra entre eles é ter aprisionado e matado muitos inimigos, pois é esse o seu costume. O número de inimigos que um homem matou equivale ao número de nomes que ganha. Aqueles que têm mais nomes são os mais distintos entre eles." (pág. 156)

"Eles não comem seus inimigos porque têm fome, mas sim por odio e grande hostilidade (...) Fazem isso tudo por causa de sua grande inimizade." (pág. 161)

Em Hans vemos uma descrição mais imparcial, em que ele nos explica coisas acerca dessa cultura . Seu relato em momentos se assemelha mais a Cardim, mas vale lembrar-nos que Hans foi um prisioneiro, e que em seu relato ele vai descrevendo e explicando o máximo possível com intuito também de atestar a veracidade do que escreve.

Há um ponto interessante em que Gândavo e Cardim concordam:
Gândavo:

"Antes são tão amigos uns dos outros, que o que é de um é de todos, sempre de qualquer coisa que um coma por pequena que seja todos os circunstantes hão de participar dela." (pág. 124)

Cardim:
"e como tem que comer não o guardão muito tempo, mas logo comem tudo o que têm e repartem com seus amigos, de modo que de um peixe que tenhão repartem com todos (...)" (pág. 88)

Depois de apontar tantos trechos e tantas discussões acerca dessas visões creio que estão preparados para a prova de amanhã!
Boa sorte para vocês!
Beijos!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOSI. Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 43 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. São Paulo: Itatiaia, 1980.

GANDAVO. Pero de Magalhães de. História da Província de Santa Cruz. São Paulo: Hedra, 2008.

MOISÉS, Massaud de. História da literatura brasileira; origens, barroco, arcadismo e romantismo. 6. ed. São Paulo: Cultrix, 2001.

______, Massaud de. A literatura brasileira através dos textos. 26 ed. São Paulo: Cultrix, 2007.


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